"Entre a verdade factual e o mito, publica-se a mais interessante"
John Ford, em o Homem que matou o Facínora
Continuamos nossa pesquisa pelo remoto e esquecido território uruguaio... Enquanto eu não for embora dessas pradarias, onde me servem cortes de carne com mais sangue que nos filmes de Tarantino, seguirei com minhas inserções futebolísticas platinas, e dane-se a audiência, e credibilidade(hein?)do blog.
Aqui em Colônia de Sacramento, há um clássico interessantíssimo, um clássico tão antigo, mas tão antigo que nem a nova geração sabe que se trata de um Derby. Esse jogo que já dividiu a cidade; se é que isso é possível, já que Colônia Del Sacramento é menor que o menor vilarejo de Alagoas... Bem, se já dividiram um átomo, podem dividir Colônia e... Chega, divaguei demais e fugi do tema. Voltando ao assunto, esse clássico que já dividiu a indivisível Colônia hoje não passa de uma lembrança na parede dos velhos casebres de xisto da aprazível cidade.
Rua principal na hora do engarrafamento
Colônia Del Sacramento foi um vilarejo que Portugal cedeu a Espanha em troca da soberania dos 7 povos das Missões em 1750, logo o acordo foi rasgado e Colônia voltou para domínio espanhol. Se você conhece a história dos missioneiros sorte sua, porque não irei me aprofundar nisso, o que interessa saber é: Em 1817 voltou a fazer parte do Brasil, até 1828 quando se deu a independência da Republica Oriental do Uruguai.
A verdade é que se não fosse o ponto mais próximo de Buenos Aires, nem os uruguaios saberiam informar onde fica colônia. A cidade de parco entretenimento, possui uma “Plaza del Toros” que nunca viu um touro, muitos dizem que ela foi erguida só pra contar mentira aos turistas, dizendo que na mesma época do Coliseu Romano, aqui se organizava festas grandiosas que atraiam muito mais público. Enfim, a Primeira Divisão era nestas paragens, a Segundona na Italia, os ofensivos leões ansiavam por jogar (devorar cristãos) em Colônia, enquanto as “jubas de pau” desfilavam sua mediocridade em Roma, bem vocês entenderam...
O Maracanã dos Coliseus
O Clássico.
Nos idos de 1958, os jogadores do Mar Del Fondo, equipe do nobre bairro de Palermo de Montevideo foram jogar a classificação para a primeira divisão contra a equipe local do Club Plaza Colônia. No acanhado estádio Prof. Alberto Suppici com capacidade para 4 mil espectadores era esperado uma grande festa pata-blanquista(referencia ao uniforme branco do Colônia), isso se os torcedores da equipe montevideana não estivessem organizado uma autentica invasão alvinegra à cidade histórica.
Pelo regulamento da AUF, um clube só pode ser considerado profissional se já levou gol do Loco Abreu
Quando as roletas abriram, descobriu-se o que a bilheteria escondia, não havia ingresso para os torcedores locais, e Plaza Colônia jogou no seu próprio estádio sem sua “hinchada”. Na saída, toda a cidade esperava os maus e espaçosos visitantes para o acerto de contas, e o confronto foi inevitável. Promessas de revanche entre outras bravatas foram urradas à plenos pulmões, mas nunca configuradas, afinal, o povo de Colônia de Sacramento não sai de casa nem pra ganhar carne de graça, quanto mais se deslocar até a capital para uma revanche babaca. A rivalidade durou apenas um dia, e os dois lados resolveram esquecer a vergonha. Os montevideanos, apesar de classificados, tomaram uma sova e saíram linchados do local, os citadinos Plazistas queriam esquecer a derrota e o vexame de serem engolidos no próprio recinto.
Atualidade: Torcedor presente no dia do Quiprocó nos relatou o fato com riqueza de detalhes, enquanto seu filho roubava a caminhonete
Clube Atlético Mar Del Fondo fundado em 25/08/1934, conta, ao contrário do vizinho Peñarol, com nenhum título em sua extensa história, e seus torcedores alegam que só não foram campeões, porque um meteoro caiu no Estádio de Palermo na grande final da segunda divisão de 1958, quando a equipe já classificada para a Liga Principal (após a Guerra de Colônia) voltavam para o segundo tempo. O sinistro “D'além estrelar” matou dezenas de torcedores e paralisou o esporte do clube por anos. Óbvio que contam com o álibi da ausência de provas pois ninguém cobriu o jogo. Só podiam mentir melhor, dezenas de torcedores, num jogo do Mar Del Fondo é exagero.
Atual equipe do Plaza Colonia tenta manter acesa a chama da rivalidade que nunca ouve
Os rivais de Plaza Del Colônia não se fazem de rogado e garantem que as festas de final de ano em seu clube, se faz um bife de Chorizo muito melhor do que na sede do rival. Alegam também que o craque Obdulio Varela jogou uma partida envergando a camisa “verde-alva”. Ancoram-se no fato de que o único jornalista disposto a cobrir o fato estava de cama.
E é apenas isso que interessa, não esperem fotos do clássico, porque eu não seria louco de perder meu tempo indo ao jogo, aliás, ao encontrar com “Manco” Gonzalez, centroavante Colonista, no café na hora do clássico, me fez crer que nem os jogadores perderam tempo com essa pelada.
Traços culturais brasileiros ainda são mantidos em Colônia, como nessa greve tipicamente tupiniquim
Mas amanha no “Colônia News” o jornalista Dom Juan Petrucio de La Anunciacion, estampará com letras garrafais: “Mais um clássico emocionante sacode Colonia”. E pouco importa se Dom Juanito também estava neste mesmo café na hora do jogo, e seu Chefe Editorial que o mandou ao derby também, e todos os leitores do credibilíssimo periódico. Aqui em Colônia, mais que a verdade dos fatos o que vale é a uma historia bem escrita. E todos felizes fingem acreditar.
Registro fotográficos históricos e atuais
Casa de xisto, típica de Colônia, herança portuguesa
Fotos da invasão Mar-Fondista
Torcedores da capital no acanhado estádio Alberto Suppici(Arrá Uhú o Albertao é nosso!)
Chegada dos vitoriosos e maltratados torcedores do Mar del Fondo na Capital
Café da Cidade: Ponto de encontro obrigatório(por ser o único)
Estádio com ampla visao do lado de fora suscita uma dúvida: "Pagar ingresso pra que?"
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